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Aquicultura muda a vida de famílias de assentamento em Bom Jardim

Produção de tilápias é acompanhada por projeto de extensão e por egresso do Campus Vitória


Se em 2021 alguém contasse que dentro de poucos meses a produção de tilápia seria uma das principais fontes de renda de 16 famílias do Assentamento Boa Vista, em Lagoa Comprida, distrito de Bom Jardim, seria difícil acreditar. Mas foi o que aconteceu: após doação de alevinos, o esforço coletivo do poder público municipal e estadual e o acompanhamento de um projeto de extensão e de um egresso do Campus Vitória, a cooperativa da comunidade realizou a despesca de cerca de dez toneladas de peixe, que foram adquiridas pela prefeitura e serão distribuídas durante a Semana Santa.

À primeira vista, a quantidade de peixes pode até impressionar, principalmente por fazer pouco tempo que a comunidade se dedica a essa atividade, mas basta saber dos detalhes com as pessoas envolvidas na produção para perceber que o potencial de crescimento é gigantesco, e que essa história está só começando.

O cultivo dos peixes no assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou há cinco meses, de maneira extensiva, em 60 viveiros com 1000 a 1500 m² – uma área onde antes era extraído barro, vendido a cerâmicas locais. Em um curto período de tempo, os trabalhadores se organizaram para formalizaram o negócio: conseguiram o licenciamento ambiental para o cultivo dos peixes e formaram uma cooperativa, a Aqua, hoje com 16 cooperados.

Para o presidente da cooperativa, André Anderson da Silva, a união de esforços nesse período foi fundamental. “A união e também acreditar na atividade e que teríamos sucesso. Houve uma liderança positiva, apoio da prefeitura e do governo do estado. E deu certo”, lembrou André.

Primeiro ciclo
Três meses depois do início da produção, os trabalhadores e as trabalhadoras perceberam a necessidade de um acompanhamento profissional e contrataram Emerson Oliveira, técnico em Agropecuária formado no IFPE-Campus Vitória, e engenheiro de pesca pela UFRPE. Além de orientar e buscar melhorias em cada etapa da produção, Emerson foi o responsável por intermediar a cooperativa e o Campus, através do projeto Socialização de Inovações Tecnológicas aos Carcinicultores do Agreste Pernambucano, coordenado pelo professor Reginaldo Florêncio, que também passou a acompanhar a atividade há cerca de dois meses.

A despesca de toda produção aconteceu nos primeiros dias de abril e envolveu as 16 famílias cooperadas. Os peixes foram adquiridos pela prefeitura de Bom Jardim e serão distribuídos durante a Semana Santa para famílias do município que estejam em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar. “Chegar aqui dá um orgulho muito grande. Não é fácil fazer a comunidade acreditar, e hoje ver essa produção é muito gratificante”, disse André da Silva enquanto observava dezenas de galeias de tilápias despescadas naquela manhã serem levadas do caminhão para a câmara fria.

O futuro
“Nossa expectativa é triplicar a produção”, resumiu André da Silva. Depois da primeira despesca, em breve começará uma nova produção, agora com o acompanhamento do engenheiro de pesca e do projeto em todas as etapas, com foco na capacitação dos trabalhadores e das trabalhadoras para atuarem desde a preparação dos viveiros até o beneficiamento dos peixes. A ideia é que nesta segunda produção, o ciclo seja completo, desde a produção de alevinos.

“A partir do beneficiamento haverá uma grande transformação social de geração de emprego e renda no assentamento”, explicou o professor Reginaldo Florêncio.

Para que tudo isso se torne realidade, a cooperativa e o projeto estão planejando oficinas de formação para os(as) jovens das comunidades em cada etapa da produção, e a previsão é que sejam iniciadas dentro de um mês. Além disso, também está sendo acertada uma visita desses(as) jovens ao Campus Vitória, onde poderão conhecer a estrutura da instituição e os cursos ofertados.

O presidente da cooperativa está otimista com a nova atividade no assentamento. “Eu vejo a vinda para um novo tempo. Dar uma nova atividade, uma nova perspectiva para os(as) jovens do assentamento. Poder focar na formação deles com cursos técnicos na área, quem sabe ter um curso de Aquicultura para atender a região”, disse André da Silva.

Ele e o professor Reginaldo destacaram a participação das mulheres nos trabalhos dessa primeira produção e também no futuro do assentamento. “Elas são mais atentas e mais otimistas com a Aquicultura, e também com a permanência dos filhos no campo”, disse o presidente da cooperativa, que completou: “Uma delas disse que o filho não vai mais precisar sair para outro estado à procura de emprego”.

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