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Nenhuma mãe precisa ser heroína

Nesse domingo de maio, pense nas mães como mulheres (e as apoie)


Uma rotina que requer muito esforço físico, resiliência e disposição. É assim que Carla Roberta define uma parte da sua vida como mãe da adolescente Jhennyffer Victoria, estudante do primeiro período do Integrado em Química. Quem vê as duas passando pelo Campus pode ter uma ideia do que significa essa definição de Carla, que desde 2019 se dedica integralmente aos cuidados de sua filha, que ficou paraplégica e com pouca força nos braços aos 12 anos de idade, após uma infecção por bactéria. “Depois que ela adoeceu tudo mudou e tivemos que nos adaptar a essa nova vida, que requer muita força física e de vontade”, explica Carla. Se você sentir vontade de chamar essa mãe de heroína, guerreira ou coisa do tipo, te convidamos a refletir um pouco mais. 

Mãe e filha encaram uma rotina exaustiva, que inclui 5 ônibus por dia, sessão de fisioterapia três vezes por semana e idas rotineiras ao médico, além de um curso técnico toda manhã. Na cadeira de rodas de Jennyffer tem muita história de superação sim, mas essa experiência mostra também um retrato bem realista do que enfrentam mulheres que, como Carla, lidam sozinhas com condições que deveriam ser tratadas coletivamente. Segundo dados do IBGE são as mulheres as principais cuidadoras de crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência. Em muitas famílias, cabe à figura da mãe a responsabilidade total sobre o atendimento às necessidades específicas de seus filhos, o que deixa ao pai, no máximo, o papel de provedor. 

Se o cotidiano é puxado, a relação entre as duas não poderia ser mais leve e animada. “Minha mãe é a energia da casa, com ela tudo fica a mil”, explica Jhennyffer, que vem aprendendo a conquistar seu espaço no Campus. Ela é acompanhada pela equipe multidisciplinar do Núcelo de Apoio às Pessoas com Deficiência (Napne) que atua para garantir a melhor maneira de incluir não só Jhennyffer, mas os diversos estudantes que apresentam alguma demanda. “Estudantes que usam cadeira de rodas precisam mais do que de rampas para se locomoverem. As condições materiais são fundamentais, mas é preciso também sensibilidade. A comunidade precisa entender que a locomoção com cadeira promove uma noção de tempo e espaço bem diferente daquela de quem usa as pernas”, explica a Coordenadora do Napne, Marcela Heráclio. Além de ajustes na sala de aula e na locomoção, a equipe do Napne e a Coordenação de Disciplina (CDIS) disponibilizaram uma servidora e funcionários para acompanhar Jhennyfer pela escola. Com isso, a estudante pode atravessar os vários blocos do Campus com mais autonomia em relação à mãe.

Mesmo com as dificuldades, essa mãe descolada de cabelos verdes diz que já percebe mudanças no comportamento das pessoas que convivem de perto com as duas. “Sei que para muitos adolescentes deve ser estranho ter a mãe de uma colega no grupo de Whatsapp, mas eu quero participar e garantir que minha filha tenha acesso a todas as oportunidades que puder, por isso tento me aproximar e estar sempre de bom humor com eles”, explica. Carla vê efeitos positivos nas ações institucionais, inclusive no desempenho da filha, que está radiante com o 8 em Física I que tirou nas avaliações da I Unidade. Juntas, mãe e filha vão construindo uma relação única de confiança e doação e todas as vezes que Carla percebe Jhenyffer se entristecer, lembra à filha o quanto ela é especial e o quanto ela ainda tem para crescer e conquistar. “A faculdade de medicina é uma delas”, diz a estudante com o sorriso aberto de quem já decidiu sobre a futura profissão. Se depender da força que motiva as duas, a cadeira de Jhennyfer tem um longo caminho de estudos e dedicação pela frente. Como Carla não tem capa voadora, nem anel de super força, ela só pode contar com as estruturas concretas e humanas para fazer com que sua filha se realize como pessoa e cidadã. Cabe a nós, que vemos as duas passarem todos os dias no vai-e-vém da cadeira de rodas, garantir que as coisas não sejam mais pesadas do que precisam ser.  

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