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Núcleo estimula reflexões sobre gênero

Encontros ocorrem todas as quartas-feiras, às 12h, no pátio do Campus Olinda


“Fruto do Estupro” é o nome do cartaz feito por Michael 23, estudante de Artes Visuais do Campus Olinda do IFPE. Ele se enxerga no desenho de uma árvore com seu fruto.  É a representação da história de sua mãe, que ao ser estuprada o gerou. Um enredo pesado transformado em arte, após reflexões feitas em grupo, com colegas e professores, em um dos encontros do Núcleo de Estudos de Gênero, realizado todas as quartas-feiras, no pátio da instituição, sempre ao meio-dia, para permitir a participação dos estudantes dos turnos da manhã e tarde.  

A cultura do estupro foi tema do segundo encontro frequentado por Michael 23, nome pelo qual prefere ser chamado. Ele diz que busca informações para não agir como o pai e, sobretudo, não reproduzir uma “estúpida cultura machista”. Sua primeira participação ocorreu quando passava pelo pátio e ouviu discussões sobre gênero. Sentou para escutar. “Queria informação. Há muitos conceitos novos de gênero que não entendemos. Tiro dúvidas para não falar besteira e, principalmente, não reproduzir alguma forma de preconceito”, justifica.

O local das reuniões foi escolhido estrategicamente. “Aqui a discussão chega a todos. Atingimos terceirizados, servidores e estudantes”, explica a professora que cuida do Núcleo,Lisa de Lisieux Dantas da Silva. Ela rejeita a nomenclatura de coordenadora ou responsável, evidenciando o tempo inteiro o protagonismo dos envolvidos. “A participação é horizontal. O próprio grupo demanda as discussões, mobiliza os encontros e propõe atividades”, conta. 

Já foram debatidos assuntos como caracterização do gênero, espaço das mulheres no campo das artes, políticas públicas e empoderamento das mulheres. O grupo recebe convidados na última segunda-feira de cada mês. Já compareceram aos debates artistas que abordaram a questão de gênero em suas obras. No Dia da Mulher, por exemplo, travestis e transexuais compartilharam suas visões sobre o assunto. A última ação foi o lambidaço, quando diversos cartazes foram confeccionados e colados dentro e fora da instituição, entre eles, o de Michael 23.  O objetivo é levar à comunidade imagens que instiguem reflexões.

O estudante de Artes Visuais, Paulo Henrique, participa do Núcleo e também fez seu cartaz. Ilustrações de uma perna cabeluda de salto alto e uma axila feminina com pelos questionam a delimitação de papéis socialmente impostos. Para ele, as discussões ajudam a desmistificar, em grupo, conceitos generalizados difundidos pela sociedade. “O que é ser homem? Como a masculinidade é construída? Ela está dentro da cultura do estupro. Somos educados para ser assediadores”, conclui.

Além de promover a reflexão por parte dos estudantes e de trabalhar conceitos coletivamente, o Núcleo também possui papel fundamental no acolhimento dos estudantes LGBT. “Os encontros servem para quebrar o gelo. Sou LGBT e sei que os alunos LGBTs precisam de momentos como esse para se sentirem integrados”, explica a professora Lisa de Lisieux. Ela faz questão de tratar o assunto também em sala de aula, de forma transversalizada. Dessa forma, os debates se propagam e alcançam novos ambientes.  “Temos estudantes que possuem canais no Youtube e levam as discussões de gêneros a esses espaços”, garante. Num momento em que a ideologia na escola é centro de um debate público, o Núcleo mostra que o importante mesmo é questionar e refletir.

 

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