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IFPE Olinda acolhe mulheres transexuais em cursos de capacitação do programa Mulheres Mil
Aula inaugural dos cursos ‘Artesã de Pintura em Tecido” e de “Manicure e Pedicure” promoveu encontros marcados por resistência e inspiração
O IFPE Olinda montou uma sala especial, nesta segunda-feira (26), para receber as alunas do programa Mulheres Mil que chega ao Campus com prioridade de atender mulheres transexuais e travestis. A aula inaugural dos cursos de “Artesã de Pintura em Tecido” e de “Manicure e Pedicure” mostrou que as alunas que chegam pra aprender um novo ofício têm muito mais o que ensinar, ao relatar histórias de luta e resistência. A aula celebrou uma troca profunda de experiências.
Intitulada “Arte e Beleza: estratégias de resistência e existência”, a aula inaugural foi conduzida por Brenda Bazante, uma mulher transexual, mestra em Artes Visuais e docente. Para as alunas, ver uma professora trans pela primeira vez trouxe um sentimento de identificação raro, algo que, embora pareça simples, é extraordinário para quem constantemente enfrenta invisibilidade. “Nunca tive uma professora trans”, relataram algumas alunas, destacando o ineditismo do momento também para Brenda, que encontrou na sala de aula trajetórias distintas, mas marcadas por desafios semelhantes.
A aula começou com um vídeo de Divina Valéria, homenageando a ancestralidade. “Ela abriu os caminhos. Na verdade, derrubou a porta. A gente era levada pela polícia só por estar na rua”, contou Brenda, com um misto de emoção e memória. Esse relato ecoou entre as alunas, muitas das quais vivenciaram realidades semelhantes, onde a rua foi, por vezes, a única saída para sobreviver. Cada depoimento trazia as cicatrizes de quem luta para viver num corpo que é, em muitos espaços, marginalizado.
“Chamam de vida fácil, mas sei o quanto essa vida é difícil”, desabafou Brenda, apontando para uma realidade de prostituição compartilhada por muitas das presentes em algum momento da vida. Para ela, a arte é uma ferramenta poderosa para tornar a vida mais leve. A emoção tomou conta do ambiente, provocando lágrimas não das alunas ou da professora, mas de quem teve a oportunidade de assistir àquele encontro de sonhos que se sobrepõem às dores de uma existência constantemente marcada pela exclusão.
“Estamos na cozinha, no tráfico, na rua, na vida errada. Quando chegamos, dizem: ‘Lá vem a marginal’”, desabafou Camilly Lima, uma das alunas do curso de ‘Artesã de Pintura em Tecido’. Ela vê na estamparia uma chance de construir uma nova vida. “Quero trabalhar por conta própria. Agradeço a oportunidade, porque são poucos os lugares que abrem as portas para mulheres trans. Somos vistas como marginais”, afirmou.
Luciana Tavares, diretora-geral do IFPE Olinda, emocionada, expressou o desejo de que as alunas, agora, sejam vistas de outra forma: “Espero que escutem ‘Lá vem a estudante do IFPE’, em vez de ‘lá vem a marginal’”. Tavares também reconheceu que o Campus tem muito a aprender com as novas alunas. “Nunca vou saber, de fato, o que é ser uma mulher trans, mas queremos que vocês se sintam acolhidas aqui. Temos muito o que melhorar, e vocês vão nos ensinar bastante”, afirmou, reforçando a importância de formação profissional para esse público. “É raro ver mulheres trans no comércio e em outros espaços formais. Sabemos o quanto é difícil para vocês conseguirem um emprego, e agradecemos a confiança que depositam na gente”, finalizou.
Adiliane Batista, coordenadora geral do Mulheres Mil no IFPE, também esteve presente e destacou a relevância de políticas públicas para mulheres, especialmente as trans. “É preciso fortalecer essas políticas”, afirmou. O programa Mulheres Mil, criado com o objetivo inicial de capacitar mil mulheres, já alcançou cem mil participantes e, após um período sem financiamento, está sendo retomado nacionalmente.