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Capoeira Angola e a sabedoria em gira: o caminho do contramestre Efraim no IFPE Olinda

Atividades ocorrem todas as segundas e quintas, das 18h às 20h, no Campus Olinda


Entre o toque do berimbau e o vaivém dos passos em um círculo ancestral, a Capoeira Angola encontrou seu espaço no IFPE Olinda. Quem conduz essa roda é o contramestre Efraim Santos, que, fora de seu horário de trabalho na instituição, compartilha seus mais de 40 anos de vivência dessa arte com estudantes, ex-alunos e a comunidade externa. Desde 2017, ele é o responsável por manter viva a tradição da Capoeira Angola, não apenas como uma prática física, mas como um movimento cultural e social de profunda reflexão. Atualmente, 18 pessoas integram o grupo.

Tudo começou em 2016, quando uma brincadeira entre Efraim e dois outros servidores atraiu olhares curiosos. Aos poucos, o que parecia uma simples atividade informal cresceu, e, em 2017, tornou-se oficialmente um projeto de extensão do IFPE Olinda. “Nada é por acaso”, comenta Efraim, sobre o desafio que aceitou ao trazer a Capoeira para o campus, formando o grupo Angola IF.

A Capoeira Angola é uma prática que trabalha mente e corpo. “Não é só a questão do físico, tem a intenção de refletir sobre questões sociais, racismo e preconceitos”, afirma. Através de cantos e movimentos, Efraim utiliza as rodas de capoeira como espaço de conscientização. Ele explica que certos cantos, que no passado perpetuavam discursos preconceituosos, não têm mais lugar em suas rodas. “Os velhos mestres não tinham discernimento no contexto em que viviam. Hoje, a nova geração tem e aproveitamos para conscientizar as pessoas”.

Com uma turma diversa, a capoeira no IFPE Olinda acolhe todos os que desejam aprender. Para ingressar, é necessário realizar um cadastro e apresentar um atestado médico, mas, além dessas formalidades, firmar um compromisso que vai além das exigências físicas. “A capoeira vai esperar por você”, afirma Efraim, destacando que os estudantes devem priorizar seus estudos, especialmente em períodos de provas e entregas de trabalhos.

Para ele, ensinar capoeira exige uma reverência ao saber ancestral. “Para ensinar, primeiro você precisa sentar e aprender, num respeito muito grande à tradição. Isso coíbe a vaidade e seleciona naturalmente quem pode ensinar”, conta.

A roda de capoeira é um espaço de troca constante, onde não importa a idade ou a experiência. Todos têm algo a ensinar e a aprender. “A gente aprende e ensina todos os dias. Até o saber do iniciante mais novo desperta algum tipo de conhecimento no grupo. É um eterno processo de aprendizagem”, reflete o contramestre.

A poética da gira, o movimento circular que caracteriza tanto a capoeira quanto outras manifestações culturais de matriz africana, é um símbolo poderoso dessa prática. Efraim faz questão de ressaltar a importância desse movimento, que simboliza a troca de saberes e energias. “A gira é o círculo. Não importa se da esquerda para a direita, ou da direita para esquerda, ela passa. Passa saber, passa energia”, afirma.

Numa exaltação à cultura ancestral, o Angola IF, mudou de nome para Sankofa, um símbolo africano, que integra o Adinkra, representado como um pássaro mítico que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás e carregando no seu bico um ovo, o futuro. “A gente aprende com o passado para crescer no futuro”.

Nas segundas e quintas -feiras, das 18h às 20h, o som dos berimbaus ecoam pelo campus, chamando para a roda aqueles que desejam tonificar o corpo, superar a timidez ou simplesmente aprender mais sobre a vida e a cultura africana. Efraim não força ninguém a cantar ou tocar, mas, como ele diz, “quando você canta ou toca, você faz isso para o bem-estar de quem está no movimento dentro da roda”.

Com a iniciativa de capoeira, o IFPE Olinda se torna não apenas um espaço de aprendizado acadêmico, mas também de desenvolvimento pessoal e social. E assim, em cada movimento dentro da roda, em cada canto entoado, o conhecimento segue girando, ecoando a tradição e o saber que a Capoeira Angola, sob a tutela de Efraim, preserva com tanto zelo.

 

 

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