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IFPE forma primeira enfermeira indígena do povo Xukuru de Cimbres

Desde que entrou no IFPE, Luana Bezerra vem desenvolvendo pesquisas sobre a saúde da população indígena. Ela se formou em Enfermagem, pelo Campus Pesqueira, no início de fevereiro


Uma índia preocupada com a saúde do seu povo. Assim é a história de Luana Bezerra Cabral, 27 anos, que recentemente se tornou bacharel em enfermagem pelo IFPE Campus Pesqueira, sendo a primeira índia do povo Xukuru de Cimbres a receber um diploma de nível superior nessa área. Desde que entrou no IFPE, ela vem desenvolvendo pesquisas sobre a saúde da população indígena. Seu projeto de conclusão de curso, que teve como tema “Medicalização do Povo Xukuru de Cimbres: implicações para a atenção psicossocial no Polo Base de Saúde Indígena”, ficou em segundo lugar no Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação (Connepi), realizado no Acre, e em primeiro lugar no Congresso de Iniciação Científica do IFPE (Conic).

De acordo com Luana, com base em suas pesquisas, a separação do povo Xukuru, em 2003, provocou um adoecimento da população de Cimbres que passou a utilizar de maneira excessiva remédios psicotrópicos, em sua maioria, antidepressivos e ansiolíticos. “Com a saída violenta de parte das pessoas da aldeia mãe, observei que muito de meus parentes entraram em processo de adoecimento mental devido a essa ruptura e mudança radical no estilo de vida. Esse fato foi preponderante para lutar e ser aprovada na seleção do curso de bacharelado em enfermagem do IFPE e, posteriormente, desenvolver essa linha de pesquisa,” destaca.

Olhando toda a sua trajetória dos últimos cinco anos, Luana agradece a Tupã (Deus) a oportunidade de ter concluído a graduação em uma instituição pública federal e de qualidade. “Hoje sou a primeira Xukuru de Cimbres a se formar em enfermagem, agradeço a Tupã por ter permitido essa realização e por durante o curso ter tido a chance de contribuir através da pesquisa com a população a qual faço parte.”, fala emocionada.

O próximo passo de Luana é encontrar meios de melhorar a qualidade da saúde de sua tribo, diante dos problemas detectados em sua pesquisa. “Não vou parar por aqui, continuarei estudando e buscando alternativa para que minha tribo diminua o uso excessivo de medicamentos. Isso se desenvolverá com pesquisas de mestrado e doutorado.”, explica.

Início das Pesquisas – Em 2014, Luana passou a integrar o grupo de pesquisa, liderado pela professora Valquíria Farias Bezerra, que estuda questões relativas à saúde mental. Num primeiro momento, a estudante investigou a Rede da Atenção Psicossocial de Pesqueira no contexto dos Xukuru de Cimbres e, posteriormente, o processo de medicalização dos índios. Os resultados da pesquisa foram apresentados no ano passado no Polo Base Xukuru de Cimbres, que é composto pelo Conselho Indígena de Saúde e o Conselho Distrital de Saúde Indígena.

Segundo Luana, sua formação irá impactar de forma positiva a comunidade indígena. “Me tornar enfermeira e poder participar de uma pesquisa voltada para compreender as dores da alma do meu povo está sendo de extrema importância para mim e para a comunidade indígena, pois se trata de uma temática sobre a qual existem pouquíssimas publicações, além de contribuir cientificamente. O IFPE faz parte dessa história por incentivar seus alunos na tríade ensino, pesquisa e extensão”.

Para Valquíria Farias Bezerra, orientadora do projeto, o processo de medicalização tem ampliado seu alcance na sociedade contemporânea, atingindo também populações tradicionais, como os povos indígenas, de forma que problemas sociais e sofrimentos cotidianos têm sido tratados como problemas médicos e o principal recurso terapêutico têm sido os medicamentos psicotrópicos. “Uma grave questão para nós pesquisadores é o abandono das práticas tradicionais de cura, como os chás de ervas, as rezas e os rituais, perdendo-se elementos unificadores da cosmologia desses povos e promovendo sua aculturação. A inserção de estudantes como Luana em programas de pesquisa e extensão contribui para sua formação ética e política e para o resgate das práticas tradicionais de seu povo” enfatiza.

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