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Maurício Castro inaugura residência artística em laboratório de gravura do IFPE Olinda
Campus planeja criar editora de gravura e acervo com obras de artistas pernambucanos
Nem todos que contemplam uma gravura sabem da dificuldade de seu processo de produção. Essa complexidade é ainda mais explorada na nova série do artista Maurício Castro, mestre da gravura pernambucana, inspirada nos sólidos platônicos. As obras ganham forma no Laboratório de Experimentação Gráfica do IFPE Olinda, fruto de um projeto de extensão, que passará a receber referências pernambucanas da gravura para residência artística. A iniciativa tem proporcionado vivência prática para estudantes e moldado as bases para a criação de uma editora de gravura no Campus.
Quando surgiu o convite, Maurício já tinha ideia das obras que queria produzir, abraçando uma temática já presente em seu trabalho. “Planejei gravuras com muitas cores para gerar problemas complexos de impressão. Chegar aqui com uma gravura de uma cor só não traria problemas para resolver”, conta. Para a série, algumas peças exigiram a produção de nove matrizes confeccionadas com linóleo. A primeira gravura realizada foi um decaedro, sólido com doze lados. Para a sua produção, foram necessárias quatro passagens pela prensa, sendo que na primeira e na terceira passagem, as matrizes eram compostas, com cores diferentes.
Os sólidos, segundo Platão, são as cinco formas tridimensionais uniformes e regulares existentes. Os discípulos de Pitágoras acreditavam que tudo o que há na natureza é formado a partir desses sólidos, que dão estrutura ao universo. Na visão platônica, cada forma corresponde a um elemento da natureza. O cubo ou hexaedro representa a terra; o octaedro, o ar; o icosaedro, a água; o tetraedro, o fogo e o dodecaedro, o éter, que representa a conexão com o cosmos. Esses dois últimos sólidos já foram produzidos. As obras, Fogo e Éter, recebem os nomes dos elementos com as quais se relacionam.
O desafio imposto pelas obras é uma oportunidade para estudantes exercitarem suas habilidades técnicas dentro de um ateliê. A estudante do curso de Artes Visuais Inabi conta que estava apreensiva antes de iniciar o projeto. Ela ficava nervosa ao pensar na oportunidade de tintar para um artista do prestígio de Maurício. “Ele é muito generoso, ensina bastante. Aprendi a observar a gravura com um olhar mais apurado, além de passar a dominar diversas técnicas, como a de corte de papel”, comemora.
A troca entre o artista e os estudantes é um dos trunfos do projeto. Maurício carrega na bagagem mais de 80 exposições, entre individuais e coletivas, no Brasil e exterior. Cenógrafo e diretor de arte, ele foi artista plástico da microssérie televisiva A pedra do reino e diretor de arte de clipes da Mundo Livre S.A., além de assinar a cenografia de diversas peças de teatro. No âmbito da gravura, virou referência ao criar e participar de ateliês como o Torre de Papel, em Barcelona, e os pernambucanos Quarta Zona da Arte, Submarino e Peligro.
“Sempre fiz gravura coletivamente. Essa arte agrega muito devido ao compartilhamento da técnica e da estrutura. Você observa o que o outro está fazendo, aprende com os acidentes que acontecem e são compartilhados. Usar um ateliê de gravura sozinho é como ter um carro para vários lugares e andar só”, brinca. O trabalho coletivo ganhou ainda mais sentido, após o isolamento exigido pela pandemia. O artista diz que o momento é de diversão e elogia a iniciativa do IFPE Olinda. “Esse é o melhor ateliê de gravura de Pernambuco”, enaltece.
PROJETO DE EXTENSÃO – Maurício é apenas o primeiro nome entre os artistas que devem vir produzir no Laboratório de Experimentações Gráficas do IFPE Olinda. A ideia é que a partir deste segundo semestre de 2022, o ateliê receba dois artistas, ao mesmo tempo, nas segundas e terças-feiras. “Nosso objetivo é que eles experimentem o laboratório e que nossos estudantes aprendam na prática as técnicas de gravação e impressão. Criamos um ambiente real, com a produção de obras que vão para o mercado. É bem diferente das simulações que fazemos em sala de aula, com os trabalhos escolares”, explica a coordenadora do projeto Luciene Pontes.
A iniciativa faz parte de diversas ações, no âmbito da gravura, já realizadas no Campus. Em 2021, entre os trabalhos executados, houve a organização do acervo do IFPE Olinda e o estreitamento das relações com gravadores e egressos do curso de Artes Visuais. Esse último público é prioritário para o projeto. “Queremos que os egressos voltem ao Campus para usar o laboratório. Também queremos atender quem está fazendo pesquisa na área de gravura”, explica Pontes.
Outro objetivo do projeto é transformar o laboratório em uma editora de gravura, consolidando-o como uma prestação de serviços por parte do Campus Olinda. Por meio da editora e das residências artísticas, o acervo será ampliado. Isso porque cada gravura de uma série produzida — a chamada BT, que serve de modelo para a tiragem — é doada ao IFPE Olinda. “O acervo formado vai mostrar todos os artistas que já passaram pela editora”, ressalta. Além de todos esses benefícios, o IFPE Olinda ficará mais conhecido, não só pelo ensino, mas pela produção artística e criação de oportunidades. Tudo isso, realizado de forma coletiva e por meio da troca entre estudantes, artistas e comunidade.