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Encontro discute Educação intercultural indígena-quilombola antirracista
Evento, promovido em Brasília pelo IFPE e Secadi/MEC, homenageou o líder quilombola Nego Bispo
A Educação Intercultural Indígena-Quilombola Antirracista foi tema de seminário que aconteceu no auditório do Ministério da Educação (MEC), em Brasília, na última quarta-feira (27). O encontro, promovido pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), em parceria com o IFPE Campus Garanhuns, teve como um dos objetivos discutir os avanços e desafios das políticas de educação intercultural e antirracista.
O seminário trouxe também uma ação formativa e de intercâmbio de experiências pedagógicas organizada por ativistas, lideranças dos povos tradicionais, docentes e gestores da pós-graduação lato sensu em Educação Intercultural Indígena-Quilombola Antirracista, oferecida pelo IFPE Garanhuns. A primeira turma do curso homenageia o líder quilombola e mestre de saberes Antônio Bispo dos Santos, o Nego Bispo, em reconhecimento à sua contribuição como educador, lavrador e poeta contracolonial, e que atuou como docente do componente curricular “Saberes Indígenas e Quilombolas e Decolonialidade”.
O encontro contou com a presença de uma expressiva delegação de Pernambuco, formada por professores, técnicos-administrativos e gestores dos Campi Garanhuns e Pesqueira e Reitoria, além de estudantes da pós-graduação, docentes de escolas públicas quilombolas e indígenas dos municípios de Poção, Garanhuns e Pesqueira, e representantes das Comunidades Quilombolas do Angicos e Negros do Osso e dos Territórios Indígenas Kapinawá e Pankararu.
A programação dessa primeira edição do evento intitulado 1º Seminário Antônio Bispo dos Santos em Educação Intercultural Indígena-Quilombola Antirracista foi aberta com uma apresentação cultural do Quilombo Mesquita, do município Cidade Ocidental, localizado no entorno do DF. O encontro também coincidiu com o contexto de criação da Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ), lançada em maio deste ano, cujo objetivo é enfrentar as desigualdades étnico-raciais e valorizar as políticas educacionais voltadas para a população quilombola.
O reitor do IFPE, José Carlos de Sá, destacou que a missão dos Institutos Federais surge de diálogos como esse e da proximidade com os territórios, lideranças e comunidades. “Os institutos são de fato a instituição mais próxima das comunidades. É um instrumento que o Estado Brasileiro tem para levar políticas públicas, espaço para transformação de realidades. Nenhuma instituição tem a capilaridade e a vocação que a gente tem, que foi criada com essa proposta de inclusão e transformação de vidas”, pontuou.
José Amaral, diretor-geral do Campus Garanhuns, ressaltou o momento de conquistas da pós-graduação em Educação Intercultural Indígena-Quilombola Antirracista, a qual caminha para formar sua primeira turma, formada atualmente por 26 alunos. “Quem diria que a gente estaria hoje ocupando esse espaço, no Ministério da Educação, aqui em Brasília, saindo de lá de Garanhuns, interior de Pernambuco, a terra do presidente. Aqueles que ainda achavam que essa pós seria somente mais uma do Instituto Federal, agora não resta mais dúvida do quanto a gente consegue abraçar esse país e ser referência para outras pós-graduações e projetos”, comemorou.
O diretor aproveitou a oportunidade para anunciar que o Campus Garanhuns vem trabalhando na proposta de transformar a especialização em um programa de mestrado. “Queremos entregar para o país um mestrado inédito. Que seja um novo começo e queremos contar com o apoio de todos e todas as lideranças para dar continuidade a esse belo trabalho”, afirmou Amaral.
A Diretora de Políticas de Educação Étnico-Racial e Educação Escolar Quilombola (DIPERQ) do MEC, Wilma Baía Coelho, saudou os participantes do seminário parabenizando-os e citando a líder quilombola e concluinte da pós em Educaçao Intercultural, Márcia Almeida, como uma importante articuladora para a realização dessa iniciativa, bem como o papel essencial dos Institutos nesse processo. “Ela é responsável por uma parte importante do que estamos vivendo aqui, sua atuação foi fundamental para o êxito do encontro. Destaco também a participação dos movimentos sociais quilombolas e indígenas e sobretudo dos Institutos Federais que junto com a Secadi formam um conjunto importante para que ações estruturantes como essa aconteçam, permaneçam e resistam a tudo que pode vir no futuro. Vocês deixarão um legado de compromisso com a causa quilombola e indígena com um espírito coletivo e que servirá de inspiração a novas gerações quilombolas e indígenas”, enfatizou a gestora.
Já a secretária da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi) do MEC, Zara Figueiredo, que participou do fechamento da primeira parte do Seminário, afirmou em sua fala que o Governo está conseguindo retomar importantes ações que ficaram para trás. “É um orgulho saber que a gente está dando conta de construir isso junto com vocês. Esse encontro é parte disso, de cultivar esse momento afetivo, essa memória ancestral, que nos constrói e é nossa identidade”, frisou.
No final da manhã, foi realizada uma sessão de homenagem a Nego Bispo, com apresentação do texto de sua autoria intitulado “Começo, Meio e Começo”, tendo à frente sua filha Joana Maria e os artistas Gean Pankararu e Stephany Metódio. No turno da tarde, o Seminário foi retomado com defesas de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e apresentação de pesquisas desenvolvidas por discentes da pós em Educação Intercultural Indígena-Quilombola Antirracista. O evento foi encerrado com ritual conduzido por indígenas e quilombolas, apresentação cultural “Confluências Encantantes”, de Átila Xukuru, e exibição de curta-metragem.
Participações – Além dos gestores citados, a primeira edição do Seminário Antônio Bispo dos Santos em Educação Intercultural Indígena-Quilombola Antirracista teve a participação da diretora de Educação Escolar Indígena do MEC, Rosilene Tuxá; do coordenador-geral de Educação Escolar Quilombola, Eduardo de Araújo; do chefe de Divisão de Governança Fundiária e Proteção Socioterritorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Caio Mota; da representante da Fundação Cultural Palmares, Edi Freitas; da representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Maryellen Crisóstomo; da coordenadora estadual de Comunidades Quilombolas de Pernambuco, Márcia Almeida; da embaixadora da Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ), Joana Maria; do prefeito eleito do município de Salgueiro (PE), Fábio de Lima Barros; da secretária de Educação do município de Bom Conselho, Maria do Socorro Alencar e da representante do Povo Xukuru de Ororubá, Silvinha Xukuru.
>> Confira imagens do seminário