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Seminários de Agroecologia e Educação do Campo do IFPE 2022 chegam ao fim com debate no Armazém do Campo
Encerramento contou com mesa-redonda e lançamento de livro no centro do Recife
Após cinco dias de programação intensa (virtual e presencial), foi realizado, na tarde da última sexta-feira (27), o encerramento do V Seminário de Agroecologia e do IV Seminário de Educação do Campo do IFPE. Transmitido ao vivo pelo canal do youtube do Instituto, o evento aconteceu de forma presencial no prédio do Armazém do Campo, no bairro de Santo Antônio, área central do Recife, e contou com a participação de representantes do Movimento Sem Terra (MST), do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe), além de docentes e estudantes do IFPE e UFPE.
Com o tema “Educação do Campo e a Contrarreforma do Ensino Médio: caminhos de resistência e esperança”, a mesa-redonda esteve composta pelo dirigente do MST e anfitrião do encontro, Paulo Henrique da Silva, pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco, Ramon de Oliveira, pelo professor do IFPE, José Nildo Caú, pela representante do Sintepe, Marília Cibele e pelo coordenador da Política Pedagógica das Escolas Itinerantes do MST do Paraná, Walter Leite. Além dos panoramas nacional e estadual da medida provisória iniciada em 2016, o debate girou em torno dos impactos do novo currículo, tanto no ENEM e na formação de estudantes, quanto nas condições de trabalho para profissionais da educação.
“A reforma, em nenhum sentido, aponta para uma melhoria da qualidade do Ensino Médio, muito pelo contrário. Não encontramos, em nenhuma das medidas tomadas, qualquer indício de que a escola se tornará mais atrativa para os alunos. Tanto no referente à formação dos alunos, quanto no exercício do trabalho docente, identificamos o intenso e profundo processo de precarização. Esta reforma solidifica ideias, valores e práticas voltadas à manutenção das desigualdades sociais”, criticou o professor Ramon de Oliveira (UFPE). Seguindo a mesma linha, o professor José Nildo Caú (IFPE) refletiu sobre a questão da dualidade educacional no Brasil e sua relação com a conjuntura atual. “Por que esse termo contrarreforma? Justamente porque ele vem contra os interesses da classe trabalhadora. São ações que vêm no sentido de atender ao interesse da grande elite, do empresariado. Nós vemos desde cortes no orçamento da educação pública, perda de autonomia de gestão, ingerência pedagógica, desmonte do sistema federal de ciência e tecnologia, do CNPQ, privatizações das universidades e institutos, ajustes fiscais”, apontou.
Já a representante do Sintepe, Marília Cibele, focou sua fala no contexto do currículo em Pernambuco. “O que é novo para alguns estados, Pernambuco já vem praticando isso em cima de um modelo de gestão que de democrática não tem nada. É um modelo de gestão por resultados. Eu como professora da rede estadual foi uma das que mais sofreu com isso, porque a minha luta com relação a esse currículo começa a partir do momento que se revoga a obrigatoriedade da oferta de ensino da língua espanhola. Para quem interessa esse currículo?Como reflexão, eu trago essa questão da limitação da formação crítica e humanística dos estudantes, a eleição precoce de qual área do conhecimento eles vão se aprofundar, a diminuição de carga-horária do professor, a precarização das condições de trabalho, a diminuição de oferta de concurso público para o magistério, a privatização da educação básica e a restrição de acesso ao ensino superior”, destacou.
Por fim, o representante do MST do Paraná, Walter Leite, abordou os desafios que a contrarreforma traz para trabalhadores do campo e da cidade. “Para qual tipo de sociabilidade queremos formar? Não há uma neutralidade na educação. Há uma dualidade, dois projetos em jogo, o dos donos do capital e o da classe trabalhadora. A educação precisa se articular com os movimentos sociais, porque não é só um projeto educacional, é um projeto de nação. A organização coletiva é a chave para a resistência”, defendeu.
Após um breve debate aberto com o público, o encontro contou com a fala e agradecimentos de integrantes da organização do evento e da gestão do IFPE, entre eles, a Pró-Reitora de Extensão do IFPE, Ana Patrícia Falcão, que esteve representado o reitor da Instituição, José Carlos de Sá. “Estou aqui ratificando o compromisso do Instituto Federal de Pernambuco com a educação pública, gratuita e socialmente referenciada. Os Seminários de Agroecologia e de Educação do Campo são um espaço, onde a gente sai renovado. A gente sai, de fato, esperançando”, declarou.
LANÇAMENTO DE LIVRO
Fechando a programação, houve o lançamento estadual do Dicionário de Agroecologia e Educação. Com mais de 106 verbetes e 169 autores e autoras de três países (Brasil, México e Espanha), a obra coletiva foi publicada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e a editora Expressão Popular em 2021. “Nós não temos, em nível mundial, nenhum material da envergadura que esse dicionário se coloca pra debater a concepção de agroecologia. Então, é uma contribuição inédita, no sentido de reunir um conjunto de conceitos, categorias, reflexões e posiciona a agroecologia comprometida com os movimentos sociais populares do campo, que constroem a agroecologia”, explicou Walter Leite, um dos autores presentes.
SOBRE O EVENTO
Realizados desde 2018, os Seminários de Agroecologia e Educação do Campo do IFPE são pensados e promovidos em parceria com diferentes entidades e movimentos sociais, reunindo pesquisadores/as, assentados/as, indígenas, quilombolas, professores/as, pescadores/as, extensionistas rurais, posseiros/as, agricultores/as familiares, trabalhadores/as rurais e demais pessoas interessadas pelas temáticas abordadas. Após dois anos de pandemia, a edição de 2022 aconteceu de forma híbrida (virtual e presencial) e gratuita. “Foram 2.200 inscrições, tivemos oficinas presenciais em Belo Jardim, Pesqueira, Caruaru, Vitória de Santo Antão, Barreiros, Cabo de Santo Agostinho, mais de 15 oficinas virtuais, 68 trabalhos apresentados, 5 grandes mesas e 2 Cines Resistência”, afirma Camila Lima, professora de Gestão Ambiental do IFPE-Paulista e presidenta da comissão organizadora do evento.
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